sexta-feira, 3 de abril de 2009

Eu, perdido.

Fisica especulativa. Proto-ciência.
Linguagem experimental. Ação-direta, imagem-indireta.

Quem chegou aqui com a leitura deve (DEVE!) se perguntar: "E aí buscapé???!!", "Hein???".


Lost Season 05 episode 11.

Refrescou?


A serie norte-americana Lost que passa atualmente no também americano canal ABC toda quarta, mudou totalmente o paradigma da televisão em si. Um paradoxo que circula as entranhas de todas as midias que tem como parametro a tal da audiencia, afinal, o que é feito p/ a TV, por exemplo, é baseado na suposição do que o telespectador assistirá ou deixará de assistir por conta do conteudo.... OU... o que é feito p/ a TV é baseado na imposição do que se deve assistir a qual quem são os responsaveis diretos são aqueles que posso aqui chamar de cafetões (produtores) ?
Lost é o exemplo vivo e em crescimento que a liguagem, o enredo sempre estaram acima dessas questões menores que os magnatas dos tubos televisivos tentam nos convencer... em outras palavras, "eles"* sabem o que eu não vou gostar antes mesmo de tal coisa ser feita.
O episodio 11 desta quinta temporada foi a prova de que Lost não está e nunca esteve brincando na ciranda da audiência mundial. A tal falada viagem no tempo nunca foi tão seriamente abordada por algo tão popular, sim, por que a maioria do publico quando indagado sobre tramas no tempo de pronto lembraram apenas Back to the Future. E sim novamente, isso foi um detalhe depressiativo para esse tema em especifico (olha eu adoro as aventuras de Marty e Doc, mas espera lá, a historia dos 3 filmes é muito igênua).
Acho que a cena emblematica do episodio e talvez da serie como um todo é quando H.H. ou simplesmente Hurley indaga Miles sobre o que está acontecendo com o tempo e eles.

Miles - Que diabos você tá
fazendo, Bolinha?

Hugo- Vendo se estou
desaparecendo.

M- O quê?

H- "De Volta Para o Futuro", cara.
Nós voltamos no tempo na ilha
e mudamos as coisas.
Se o pequeno Ben morrer, ele nunca
vai crescer e se tornar o Ben grande,
que foi quem nos trouxe
aqui em primeiro lugar,
que significa que não podemos
estar aqui, e aí, cara?
Nós não existimos.

M- Você é um idiota.

H- Sou?

M- Claro. Não funciona assim.
Não dá pra mudar nada.
Seu amigo maníaco iraquiano
atirou no Linus.
Sempre foi assim. Nós apenas
não presenciamos como ocorreu.

H- Isso é bem confuso.

M- É, então se acostume.
Mas a boa notícia é que
Linus não morreu,
então o garoto não
pode morrer também.
Ele ficará bem.

Kate (de pescoção)- Não parecia que ficará.
E se você estiver errado?

M- Se eu estiver errado, então
nós deixaremos de existir,
e nada disso vai
importar mais, não é?

H- Me deixa entender direito.
Tudo isso já aconteceu.

M- Sim.

H- Então essa conversa
que estamos tendo,
nós já tivemos.

M- Isso!

H- Então, o que vou dizer agora?

M- Não sei.

H- Há! Então sua teoria
está errada.

M- Pela milésima vez,
seu burro,
essa conversa
já aconteceu,
mas não pra você e eu.
Pra você e eu ela está
acontecendo agora.

H- Tá, me responda isso.
Se tudo isso já
aconteceu comigo,
por que eu não
lembro de nada?

M- Porque quando o Ben
girou aquela roda,
o tempo não é mais
linear para nós.
Nossas experiências
no passado e no futuro,
ocorreram antes dessas
experiências de agora.

H- Fala isso de novo.

M- Atira em mim.
Por favor?

H- Ahá! Eu não posso
atirar em você.
Se você morrer em 1977, você nunca
voltará para a ilha em um cargueiro
daqui a 30 anos.

M- Eu posso morrer, por que eu já
cheguei na ilha em um cargueiro.
Qualquer um de nós pode morrer
porque esse é nosso presente.

H- Mas você disse que Ben não poderia
morrer porque ele ainda vai crescer
e se tornar o líder dos outros.

M- Porque esse é o passado dele.

H- Mas quando capturamos o Ben
e o Sayid, tipo, o torturou,
porque ele não se lembrou de ter
levado um tiro daquele mesmo cara
quando era criança?

M- Não pensei nisso...


Alguem aí percebeu a ironia enorme contida nesse dialogo?
É logico que o Hurley faz o papel do telespectador que não sabe nada sobre os paradoxos do tempo e que seria facilmente limado por aquele pensamento lá encima dos cafetões que não permitiria que alguém como o proprio Hurley acompanhar uma trama complicada com fisica especulativa como essa, logo pensariam, o publico não conseguiria acompanhar tal emaranhado de teorias. Mas claro que como qualquer ser desta raça que consegue andar em duas patas e com elas sentar enfrente a uma tela que ele mesmo construiu é deveras substimado só por estar dissolvido em uma massa homogenea tendo como vista o macro-cosmo. Hurley como o telespectador e o ser pensante é portador de claramente de Sophia. É lindo como ele usa o questionamento para encurralar filosoficamente o confiante Miles.


Para fechar o texto - o episodio - o dia, aqui vai a cereja do bolo:

Locke- Hello, Ben.
Welcome back to the land of the living!



*É tão divertido dizer "eles", deve ser os ecos dos X-Files...

Vejo vocês no nefausto.

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